quarta-feira, novembro 30, 2005

Boas maneiras


Foi aprovada na última segunda-feira (28), o projeto de lei nº41/2005, de autoria do vereador Joadir Luiz Capucho, que "dispõe sobre a proibição de fumar nas escolas do município de Ilhabela". Nada a favor do fumo, sabidamente prejudicial à saúde, mas a lei fez-me lembrar de um trecho do livro O Jardim das Aflições, do filósofo Olavo de Carvalho:
"O Estado torna-se cada vez mais o mediador de todas as relações humanas, mesmo as espontâneas e informais -- um galanteio, um olhar, a simples descortesia de acender um cigarro num ambiente fechado. Aqueles, por exemplo, que vêem algo de bom nas leis contra o fumo são cegos para a monstruosidade que reside no fato de a esfera jurídico-penal invadir o campo das boas maneiras".

segunda-feira, novembro 28, 2005

Temporada de navios


Hoje teve início a temporada 2005-2006 de navios de passageiros. Diante daquele arrastão de vans, jipes e atendentes que transformavam o receptivo numa espécie de mercado persa, imaginei um slogan para o acontecimento:

Seja bem-vindo, deixe seu dinheiro e volte sempre

sábado, novembro 26, 2005

Parente é serpente

Ainda tramita na Câmara o projeto de lei nº23/2005 de autoria do vereador Dr. Guilherme (PMDB) o projeto que pretende acabar com o nepotismo no município. Conforme seu próprio texto, a lei proposta “Proíbe a contratação de parentes até o segundo grau no âmbito da administração direta, indireta, autarquias e fundações do município de Ilhabela”. O projeto deve ir a plenário ainda este ano, se o recesso da Câmara permitir.

A polêmica em torno do nepotismo surgiu quando ficou claro e evidente que a prática é mais do que comum em Ilhabela. Inspirados pelas declarações do ex-deputado Severino Cavalcanti, os acusados não demoraram a buscar e oferecer explicações que davam ares de moralidade a um ato típico de pessoas imorais. O principal argumento a favor do nepotismo é a confiança que os empregadores podem depositar em seus empregados, já que são todos seus parentes. Vejamos se esse argumento é válido:

1) Desde Caim e Abel, o parentesco já não significa muita coisa. Uma pessoa confiável será confiável independentemente de parentesco.

2) A confiabilidade que um governante espera de seus parentes é do tipo que não interessa aos cidadãos; trata-se da confiabilidade que cria uma cortina de fumaça nos negócios públicos, que torna um governo cada vez menos transparente e restrito a um determinado clã.

3) Por esta razão, trabalhar rodeado de parentes inspira mais a informalidade dos sabujos e dos maliciosos do que a competência dos técnicos e a sabedoria dos aristocratas.

4) O que, portanto, poderia ser um argumento a favor do nepotismo, é na verdade o papo mole de quem pretende justificar o injustificável sem perceber os riscos de tal atitude para a população e para si mesmo.

Além destas razões, há outro aspecto moral, que determina que o administrador público ofereça chances iguais de trabalho a parentes e não-parentes. Ainda que o pistolão seja uma instituição mais sólida do que muitas prefeituras brasileiras, é importante dizer e lembrar aos adeptos da lei de Gérson que se trata de uma prática absolutamente imoral e inaceitável. Privilegiar um parente pode ser uma atitude natural para a maioria das pessoas -- e de fato é, em qualquer sociedade que tenha os laços familiares como fundamento para uma vida civilizada.

Quando, no entanto, o bem estar da população e o dinheiro público entram em jogo, qualquer político sensato deve assumir a responsabilidade que o cargo lhe exige e colocar no pedestal de suas decisões não a sua família, mas as virtudes que o definem como um aristocrata. Não que o político deva abandonar sua família, como o monge que se retira para aprender a vida monástica e para encontrar o nirvana, mas ele pode e deve atender àquilo que eleitores expressaram com o voto: o desejo de que o político seja um misto de líder equilibrado, administrador competente e homem justo e honesto. Rodeado de parentes, poucas pessoas sabem ser algo além do marido prestimoso ou do irmão complacente. Ilhabela não precisa disso.

sexta-feira, novembro 18, 2005

É ver para crer


Nota publicada no Diário do Litoral Norte de hoje:
Obras no antigo fórum — terão início na próxima segunda-feira, 21, obras de restauro e revitalização do antigo prédio da Cadeia e Fórum de Ilhabela, tombado em agosto de 2001 pelo Conselho Nacional de Defesa ao Patrimônio Histórico. O edifício vai abrigar a sede administrativa do Parque Estadual de Ilhabela e espaço da Secretaria Municipal de Cultura. O prédio restaurado deverá ser entregue à população no mês de abril do próximo ano e o valor gasto será por volta de R$600 mil, recursos oriundos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e só será possível graças ao Projeto de Ecoturismo, do Governo do Estado, que começa a ser implantado.

O grifo é meu. Duas coisas chamam a atenção — eis as razões do grifo:

1) A ausência da Prefeitura. A nota sugere que a participação municipal só acontecerá na condição de usuária do espaço — o que é bem provável e nos leva ao segundo item.

2) O Projeto de Ecoturismo (leia aqui o texto integral do projeto, em formato PDF), algo que deveria ser prioritário para o município, é, como a reforma da Cadeia, uma iniciativa do Governo Estadual. Não vou me surpreender se a Prefeitura, mais uma vez, resolver colher louros alheios.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Manual do internauta ilhabelense

Foi-se o tempo em que Ilhabela era (mal) servida por apenas um provedor e apenas em alguns bairros. Hoje quase toda a cidade dispõe de conexão rápida e o número de moradores ligados à rede tem aumentado bastante. Apesar disso, a internet ainda está longe de representar para Ilhabela o que representa para outras cidades.

A lista que apresento a seguir reúne endereços que considero importantes, interessantes ou úteis que tenho encontrado na internet. Muitos desses espaços são sites do bem, que ampliam a consciência que as pessoas têm em relação a Ilhabela, que mostram faces inusitadas do arquipélago e que deixam claro que aqui há pessoas inteligentes, conscientes e dispostas a fazer deste lugar algo mais do que um canteiro de obras ou de um recanto de veraneio e baladas. Longe de constituir um manual definitivo, espero que esta lista seja ao menos um começo.

www.santaseiva.com.br: já faz tempo que o Galeno não escreve no Jornal da Ilha; para saber o que ele anda fazendo basta acessar o site do Sítio Santa Seiva, um espaço dedicado à pesquisa ambiental e à arquitetura ecologicamente correta. Afinal e felizmente, Ilhabela não é só predação.

www.kalinesia.com : fotolog de Ruben Bianchi, um dos cabeças do Espaço Pés no Chão. Lá o internauta encontrará fotos dos eventos e dos trabalhos do Espaço. Se existisse algo como uma coluna social do bem, essa coluna seria o Kalinesia – sem caras e bocas, com muita cultura e inteligência.

www.acordailha.com.br : site de Marie Asmar, arquiteta e designer. Além de informações pessoais e de um belo portfolio, há também a mais completa lista de hotéis, chalés, pousadas e estabelecimentos comerciais de Ilhabela (todos sabem que as listas “oficiais” são incompletas) e uma foto do Canal de São Sebastião, atualizada diariamente.

aikido.t35.com : site do grupo de Aikido de Ilhabela. A arte marcial que desenvolve corpo, mente e espírito e que não tem competições está representada em Ilhabela desde 1994. Além de explicações gerais sobre a arte, no site há também fotos do grupo, horários de treinos e alguns artigos publicados neste Jornal da Ilha.

www.ilhabela.sp.gov.br/leis.htm : esqueça a abertura extravagante do site da Prefeitura e vá direto à página que traz as leis municipais (muito mais organizada e agradável do que a página da Câmara Municipal). Entre elas, a que prevê melhor atendimento nas agências bancárias ilhabelenses e a que pretende solucionar de vez a questão dos cães de rua. Leis lindas e bem elaboradas, mas ignoradas (por que?).

br.groups.yahoo.com/group/ilhanet: o Ilhanet é o primeiro e-grupo dedicado a discutir temas locais. Criado originalmente com o objetivo de melhorar os serviços de Internet em Ilhabela, o e-grupo cresceu e os temas tornaram-se cada vez mais diversificados.

www.orkut.com/Community.aspx?cmm=39773 : Ilhabela no Orkut. Nessa comunidade é possível discutir temas importantes, como meio ambiente, cães de rua, violência, o impacto do turismo na cidade, o novo Fórum de Ilhabela (um crime paisagístico...) etc. Mesmo que às vezes as discussões pequem pela falta de qualidade, aos poucos os ilhabelenses vão-se habituando ao engajamento on-line.

www.skype.com : o Skype tem-se mostrado uma eficiente alternativa às tarifas abusivas da Telefonica. Diversas pessoas e empresas de Ilhabela já o têm usado como alternativa ao telefone convencional e não é difícil encontrá-las no serviço de busca do software.

www.olavodecarvalho.org : embora não se trate de um site com informações locais, a leitura dos artigos do filósofo Olavo de Carvalho é imprescindível para quem quiser entender o país e o mundo. Esqueça os jornais, os partidos, as ideologias. A verdade é feita de indivíduos.

Quem está habituado a usar a Internet sabe que há muito mais para ser divulgado. Acréscimos, críticas, sugestões, comentários serão muito bem-vindos.

segunda-feira, novembro 14, 2005

Em breve, o verão


Antes de aplicar minha severidade crítica e espartana à mendacidade dos turistas deste feriado, considero, evidentemente, que fazia tempo que não havia um feriado prolongado. Este, para piorar os ânimos e os acontecimentos, coincidiu com uma trégua de um longo período de chuvas. Então, a combinação explosiva estava feita: sol, calor, feriado prolongado e turistas desejosos pelos prazeres proporcionados pela terra-de-ninguém em além-mar.

É um consenso entre moradores daqui a idéia de que todo turista faz cá nestas terras coisas que não faria na frente de sua esposa, sua mãe ou seu chefe. A travessia marítima constitui uma espécie de ritual de passagem em que o sujeito sisudo, acostumado à disciplina do trabalho exaustivo e às vezes aos nós apertados das gravatas, transforma-se no mais imbecil dos sujeitos, alguém que não vê qualquer motivo para agir com um pouco de civilidade nos três ou quatro dias que vai ficar descansando e aproveitando (sim, verbo intransitivo).

Ele tem razões para isso.

A primeira é o fato de pagar caro por esses três ou quatro dias de ócio e hedonismo. Ilhabela é um lugar caro e, para piorar, recheou recentemente mais uma edição da Vejinha que fala de lugares descolados. Pagar por algo é o salvo-conduto para o turista fazer tudo o que quiser.

A segunda razão é que a mudança de ambiente inspira a mudança de comportamento. É como ir a um prostíbulo, ao dentista ou a um grupo de meditação: é impossível manter as aparências em lugares assim.

A terceira é o tratamento a pão-de-ló que prefeitura, estabelecimentos de comércio, hotéis e pousadas dispensam a essas pessoas. No Brasil em geral e em Ilhabela em particular, turistas são crianças mimadas.

A primeira razão torna o turista egocêntrico -- como se ele já não o fosse de uma forma insuportável. A segunda razão o livra das rédeas da vergonha e do bom-senso. A terceira razão constitui o aplauso necessário para que ele tenha certeza de que as duas razões anteriores são boas o suficiente.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Sintomas


Em entrevista ao Jornal da Morada na última terça-feira, a palavra menos pronunciada pelo secretário de turismo e fomento (desenvolvimento não seria melhor?) de Ilhabela, Ricardo Fazzini, foi ecoturismo. Só pode ser um sintoma. Afinal, a temporada de cruzeiros marítimos começará em breve.

***
Frase do dia:
O homem medíocre não acredita no que vê, mas no que aprende a dizer. -- Olavo de Carvalho

segunda-feira, novembro 07, 2005

Ironia

Logo depois de enfrentar 45 minutos de fila no Bradesco eu ligo o PC e me deparo com isto.

A situação torna-se ainda mais irônica quando me lembro disto.

Há leis, há dinheiro. Falta óleo de peroba, só pode ser isso.