terça-feira, agosto 29, 2006

Escolhendo um candidato

Para quem vai votar este ano e, como eu, não sabe em quem, este questionário pode ser de grande ajuda -- desde que os candidatos se dignem a respondê-lo.

quarta-feira, agosto 23, 2006

domingo, agosto 20, 2006

Reforma na Vila I


Eu era assim...

A aflição daquele que se comove com o corte de árvores urbanas é análoga ao calculismo de quem planeja o corte. Os dois estão certos e os dois estão errados. Certos em querer defender seus respectivos interesses, porque eles são justos. Errados em ignorar a realidade que é sempre mais complexa do que sugere a percepção de uma pessoa interessada.

No caso da Praça da Bandeira, a complexidade da realidade está nos seguintes fatos:

1) A paisagem urbana não é apenas aquilo que se vê. Há muito mais do que aparência na paisagem.

2) Lugares têm história, mesmo que existam pessoas como, por exemplo, Oscar Niemeyer.

3) Árvores urbanas exigem cuidados, manutenção e planejamento, ainda que a maioria de nós ainda creia na espontaneidade dos ritmos da natureza.

4) O que é antigo não é necessariamente bom.

5) Cortar árvores pode ser necessário às vezes. A possibilidade dessa necessidade aumenta no caso de árvores urbanas.

6) Todo projeto (paisagístico ou arquitetônico) deve considerar dois tempos: o tempo de realização das coisas, o tempo gravado na memória das pessoas.

terça-feira, agosto 08, 2006

Crime e espaço urbano

Vi na TV que um dos mentores dos ataques do PCC havia sido preso no litoral norte. Pensei: "...em Caraguatatuba?". Abri o saite do Imprensa Livre e vi: em Caraguatatuba não, ele foi preso em Ilhabela. A notícia relaciona o criminoso com o assalto ao Banco Bradesco ocorrido em maio, poucos dias antes do primeiro ataque do PCC.

O litoral norte ainda não se acostumou com o crime. Em minha opinião, é uma questão de tempo até que isso ocorra. Alguns indicadores dão validade a esta idéia: ocorrências cada vez mais freqüentes, muros altos, cercas elétricas. E cada vez mais as pessoas se fecham em seus guetos (miseráveis ou luxuosos), deixando a cidade ao léu. Em breve não haverá mais lugar para o cidadão comum. Chegará o dia em que será necessário estar vinculado a uma dessas três forças para circular livremente nas cidades brasileiras: o poder público, o poder do crime ou o poder da blindagem.

O lugar nada significa nessas horas. Tem significado aquilo que é possuído -- daí as cercas, os muros, a vigilância. E assim as cidades se tornam terra-de-ninguém.

O curioso é ninguém perceber a relação entre o uso público do espaço urbano e a presença de criminosos na cidade. Quanto mais condomínios fechados, vigilância e barreiras para evitar o crime, mais liberdade os criminosos adquirem para circular pela cidade e mais insegura ela ficará.

Uma dica: visite a nova Praça da Mangueira, na Água Branca, e veja também os primeiros movimentos da grande reforma na Vila. É bastante curioso perceber a tabula rasa feita nestes lugares. Foram piedosos com as árvores, mas não com as pessoas, não com as memórias. Onde não há memória, não há moral. Onde não há moral, predomina o vício, o crime, o materialismo
hedonista do aqui-agora.

Volto a este assunto em breve. Deixe seu comentário enquanto isso.

domingo, agosto 06, 2006

O mau turista: uma digressão


Cadê o turista que tava aqui?

Menas
, gente, menas.

Convidadas a citar os principais problemas de Ilhabela, muitas pessoas se apressam ao falar do mau turista, do turista porco, do turista mal educado. É mesmo?

Turista que é turista não passa o ano inteiro em Ilhabela. Talvez o mais endinheirado dos turistas passe no máximo 30 ou 40 dias de seu ano nesta cidade. Daí a primeira pergunta:

Será que em 30 ou 40 dias o turista consegue fazer mais estragos em Ilhabela do que o sujeito que vive aqui os 365 dias do ano?

Aliás, será que o turista que pode passar 30 ou 40 dias em Ilhabela é do tipo que faz estragos? Eu duvido que seja. Assim, faríamos a pergunta anterior trocando o sujeito da frase pelo turista que só passa feriados aqui: será que em 10 ou 15 dias o turista consegue fazer mais estragos em Ilhabela do que o sujeito que vive aqui os 365 dias do ano? É claro que não.

Daí a segunda pergunta:

Quando você fala do mau turista, do turista porco e do turista mal educado, você quer dizer que não há nada de errado com o mau morador, com o morador porco e com o morador mal educado? E com a má pessoa, com a pessoa porca e a pessoa má educada, algum problema?

Percebeu?

Sim, sim, minha gente. Turistas porcos são um problema — assim como o morador porco, o arquiteto porco e o estudante porco. Pessoas porcas são um problema, em qualquer lugar, em qualquer condição, assim como as pessoas más ou as pessoas mal educadas.

Uma pessoa me diz que os moradores têm mais consciência, não deixam lixo nas praias etc. e tal. É verdade: eles preferem esportes mais radicais, como lançar esgoto em córregos, deixar lixo e entulho em ruas e terrenos baldios e erguer construções irregulares (em favelas ou condomínios).

Mas o problema, de verdade, é culpar sempre os outros.

terça-feira, agosto 01, 2006

Ciclovia

Enviei o seguinte e-mail à Divisão de Trânsito de Ilhabela. Espero, sinceramente, que ele não seja ignorado.


Prezado sr. diretor,


talvez a baixa temporada seja um momento oportuno para discutir alguns assuntos que em outras épocas do ano ficam em segundo plano. A despeito do bom trabalho desenvolvido
pelos profissionais do trânsito de Ilhabela, eu, como ciclista, tenho visto alguns problemas na ciclovia tal como ela se oferece ao cidadão atualmente.

O primeiro e mais notável é O FATO DE A CICLOVIA NÃO TER CONTINUIDADE. Como sabemos, trechos não fazem uma ciclovia. O que existe atualmente é bom, mas insuficiente. São especialmente perigosos para todos (ciclistas, pedestres e motoristas) os pontos em que a ciclovia termina (ou começa): invariavelmente os ciclistas usam a rua ou a calçada, misturando-se com pedestres ou automóveis.

Outro problema importante é a PRESENÇA CONSTANTE DE PEDESTRES NA CICLOVIA. Não sei se por falta de informação ou por falta de educação, muitos pedestres fazem questão de andar na ciclovia. Tento às vezes orientá-los, mas já houve quem me respondesse com grosserias ou ameaças de agressão. Percebo que a ausência ou a má qualidade das calçadas em alguns trechos faz com que os pedestres prefiram a ciclovia para caminhar. Mas na maioria dos casos a calçada tem o tamanho necessário e suficiente para a caminhada.

Trechos especialmente problemáticos são o do Morro da Cruz e o da ponte de madeira, no Perequê. São lugares bastante utilizados por pedestres, onde não há calçadas próximas para escape.

O primeiro problema pode ser resolvido com a firme decisão da prefeitura concluir a ciclovia e, quem sabe, estendê-la além dos limites da Vila e da Barra Velha. Esta decisão surge da consciência de que a ciclovia não é meramente uma infra-estrutura de lazer e recreio, mas de trânsito, extremamente útil e que pode aliviar os crescentes problemas de trânsito. Desnecessário dizer que o turismo também poderá ser beneficiado com ciclovias melhores e mais extensas.

O segundo problema se resolve com educação, sinalização e fiscalização.


Percebo que a sinalização existia, mas foi destruída por vândalos; talvez formas alternativas funcionem melhor, como a pintura do piso, à maneira do que é feito em ruas e avenidas. Muitas pessoas andam na ciclovia simplesmente porque demoram a notar que não se trata de um passeio para pedestres. Faixas para pedestres e a palavra "ciclovia" pintada em pontos estratégicos do piso podem ser formas mais adequadas de sinalização.


A fiscalização inexiste para pedestres e ciclistas. Já ouvi de um fiscal que é impossível fiscalizar a circulação de pedestres e de ciclistas, já que não existe legislação específica para isso. Mas não será responsabilidade dos fiscais também orientar os cidadãos? Sempre me impressiono quando vejo fiscais do trânsito atuando com profissionalismo e severidade no trânsito de carros e motos e simplesmente ignorando os erros notáveis que ciclistas e pedestres cometem -- alguns até potencialmente perigosos. Ainda que não existam leis para estas pessoas, por que não abordá-las e orientá-las?


A educação pode ser feita através da atuação dos fiscais. Pelo que sei, parte dela tem sido feita em escolas municipais, o que sem dúvida é uma ação importante, que dará frutos num futuro breve. Mas ela se mostra insuficiente para a atual condição do trânsito e, sobretudo, do uso da ciclovia. Campanhas de educação simplesmente não funcionam com moradores adultos. E há também muitos turistas que insistem em fazer da ciclovia seu belvedere; para eles as campanhas de educação também não são muito eficientes.


Como ciclista e cidadão, espero que estas palavras encontrem algum eco.


Sem mais, agradeço a atenção e aguardo sua resposta.


Com meus melhores votos,


Christian Rocha