sexta-feira, junho 29, 2007

Tem alguém aí?



Moro em Ilhabela desde 1998. Desde que nasci conheço este lugar. Acostumei-me à idéia de que não há debates inteligentes aqui. Há pessoas inteligentes, sem dúvida, mas eu sempre acreditei que elas não estavam interessadas em debater -- movidas talvez por um ritmo que molda o caráter e o coloca mais perto das praias, das cachoeiras, das paisagens do que dos livros, das aulas e das discussões.

Não é difícil perceber que uma grande parte dos problemas desta cidade deve-se ao silêncio dessas pessoas. Decerto elas têm casa e trabalho que lhes exigem atenção e dedicação, mas talvez baste elas se pronunciarem para que muitas coisas sejam modificadas para melhor. Um grande filósofo disse recentemente:

"O futuro deste país depende de que o número de observadores atentos cresça antes que a transmutação se complete invisivelmente".

Bem, como isto é um apelo, é melhor ir direto ao ponto.

Minha idéia é reunir essas pessoas para conversar. Não apenas porque Ilhabela tem problemas que merecem ser discutidos, porque teremos eleições em breve e porque o cenário municipal parece um pouco distante daquilo que julgamos ser o ideal -- aliás, como o cenário nacional. O objetivo não é conversar apenas sobre política, mas sobre tudo aquilo que pode ser importante para as pessoas que vivem neste lugar. Não se trata apenas de lavar roupa suja, de diagnosticar problemas e buscar soluções, mas de conversarmos sobre as soluções que já foram encontradas e por que certas coisas são boas e úteis e merecem ser transmitidas e aperfeiçoadas. Isto amplia bastante as possibilidades de diálogo e certamente o tornará mais interessante.

Podemos nos reunir em qualquer lugar: numa praça, na praia, num bar, em minha casa, na casa de alguém. Podemos nos reunir semanal, quinzenal ou mensalmente, ou as reuniões podem ser esporádicas. Podemos conversar por uma ou duas horas ou mais. Pode ser com ou sem café. É desnecessário estabelecer regras. Por enquanto, o fundamental é que haja encontros e trocas.

Os requisitos são os seguintes:

- As conversas devem ser frutíferas. Jogar conversa fora é bom, mas eu não imagino uma reunião social.

- Por isso, nem todos serão bem-vindos. É importante que as pessoas dispostas a conversar tenham consciência e clareza a respeito daquilo que estão falando e saibam ouvir e compartilhar.

- O hábito de pensar nos problemas mais comuns nesta cidade também é importante. A maioria destes problemas não fica limitado às bordas desta ilha; são problemas nacionais, às vezes mundiais.

- Disposição para ler e estudar. Não, não pretendo criar um grupo de estudos e nem é necessário ter lido centenas de livros para conversar com sabedoria e inteligência. Mas se você é do tipo que tem aversão aos livros, as coisas ficam mais difíceis.

- Não é necessário pertencer a esta ou aquela casta política, religiosa ou social. Estas coisas podem ajudar ou atrapalhar, dependendo de como a pessoa administra seu conteúdo numa conversa.

- Não é necessário ler os jornais todos os dias. Estar atualizado é diferente de saber entender os fatos -- isto é mais importante do que aquilo.

- Saber perguntar.

- Saber diferenciar opinião e fato. Sua opinião será bem-vinda, é claro, mas quando o conhecimento dos fatos está à disposição de todos, as opiniões são uma espécie de "cosmética do intelecto".

Logicamente estas não são regras. Entenda-as como uma sugestão. Ou entenda-as como um esboço do que eu imagino a respeito desses encontros.

Quem estive disposto a atender a este apelo, entre em contato comigo -- através deste site ou de meu e-mail: christianrocha @ msn . com (elimine os espaços)

A todos, muito obrigado.

terça-feira, junho 26, 2007

Arquitetônicas



A maioria das pessoas acha que o turismo é a atividade econômica mais importante de Ilhabela. Eu discordo. A atividade mais importante é a construção civil. Todo turista que vem para Ilhabela hospeda-se num hotel, numa pousada, numa casa de veraneio. Todo veranista quer ter uma casa em Ilhabela, quando já não a tem. Todo morador sabe a importância de encontrar um bom lugar para morar, num bairro tranqüilo e bem situado. E todos sabemos — embora nos esqueçamos às vezes — que tudo isso ocupa e modifica terrenos, gera entulho e esgoto, transforma a paisagem e modifica o desenho da cidade. Vale a pane refletir por alguns instantes sobre o trabalho de arquitetos e engenheiros nesta cidade.


O artigo completo pode ser lido em meu site pessoal.

quinta-feira, junho 21, 2007

Política

Tratando de política no arquipélago, ouço alguém dizer que o problema é a falta de engajamento. As pessoas são alienadas, não querem saber de política. A meu ver isto não é um problema, mas uma virtude.

Não vejo suecos, japoneses, sul-coreanos, suíços e dinamarqueses engajados na política. Vejo-os trabalhando e colocando em prática os valores que eles consideram fundamentais para a realização de coisas boas para sua família, sua empresa, sua cidade, seu país.

O problema não é a falta de engajamento da população, mas o excesso de engajamento dos políticos. Não são as pessoas que têm que se envolver com a política. São os políticos que têm que se envolver mais com as pessoas que os elegeram.

Quem já esteve numa sessão de Câmara, quem já acompanhou declarações e entrevistas com prefeitos, secretários e outros políticos, acaba percebendo que o maior problema é quando eles colocam sua condição de políticos acima de sua condição de cidadão. Outro problema é que os eleitores avalizam essa idéia, vendo nos políticos uma estatura que eles não têm -- ainda que os critiquem.

É mais ou menos assim que o sujeito se vê livre para fazer política em vez de defender os valores pelos quais ele supostamente foi eleito e colocar a mão na massa para resolver os problemas práticos do dia-a-dia da cidade.

sexta-feira, junho 01, 2007

Avisos

Lembro aos seis leitores deste blog que não esqueci de vocês. As atualizações têm sido raras porque, sinceramente, Ilhabela me interessa cada vez menos.

De um lado, porque tenho visto este lugar sempre com olhos acadêmicos, porque decidi fazer de Ilhabela o tema de meu mestrado. Nos próximos meses devo divulgar coisas que tenho escrito para a pesquisa.

De outro lado, porque de fato poucas coisas relevantes acontecem em Ilhabela. Sem dúvida há muitas coisas relevantes acontecendo por aqui, como o novo patamar de ruindade atingido pelo serviço de balsas, as empresas ceifadas pela baixa temporada, a poluição ostensiva do Canal de São Sebastião. O problema é que estas coisas -- algumas de importância estratégica para o município -- são tratadas com a seriedade típica de quem só tem olhos para os festejos municipais. E mesmo sendo estratégicos, estes assuntos são irrelevantes perto de, por exemplo, as eleições municipais do ano que vem. Se o Poço da Jaqueira fede, o melhor é manter-se longe dali -- eis a lógica seguida inclusive por aqueles que são responsáveis por fazer algo a respeito disso.

E as festas juninas estão aí. Vou ali pegar uma paçoca e já volto.

*
Alguns dos livros que pus à venda em dezembro passado ainda estão disponíveis. Quem tiver interesse em algum título, por favor entre em contato através do e-mail christian arroba gropius ponto org

*
Segunda-feira passada meu avô recebeu moção de louvor na Câmara Municipal de Ilhabela. Atualmente aposentado, meu avô foi um pioneiro em Ilhabela. Por muitos anos sua farmácia foi a única da cidade, que funcionava como espécie de extensão dos sistema de saúde local. Naquela época ainda não havia o hospital e os atendimentos limitavam-se à Santa Casa.

Por seus quase trinta anos de trabalhos como farmacêutico nesta cidade, foi uma homenagem merecidíssima.

A meu avô, meus parabéns e minha gratidão.

*
Como avisei antes, caso nada aconteça por aqui, vá até meu site pessoal. Quando eu não estiver publicando aqui, certamente estarei publicando lá.

A todos, muito obrigado.