terça-feira, dezembro 15, 2009

Ilhabela por Debret


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Pintura de Debret que mostra a Vila em 1827. Que traga bons augúrios para o novo ano. Ilhabela anda muito moderninha ultimamente e, ao contrário do que muitas pessoas podem imaginar, isso não tem trazido nada de bom para a cidade. O melhor que poderia acontecer com a cidade seria... retroceder.

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Meus agradecimentos e abraços aos amigos Wilson, Erika e Marie pelo envio da imagem.

quarta-feira, outubro 28, 2009

A verdade não está lá fora



Para minha surpresa, mais de uma pessoa já me pediu conselho sobre como tornar Ilhabela um lugar melhorzinho. Aqui vão algumas linhas sobre isso.

Em primeiro lugar, eu não acredito que seja possível tornar Ilhabela um lugar melhorzinho. O lugar já é bom, as pessoas é que o estragam. Isto é bem óbvio, não? E se é óbvio, fica patente que pedidos como aquele e a idéia de que Ilhabela pode se tornar um melhorzinho são, para dizer o mínimo, sintomas de miopia grave. Em outras palavras, se o que interessa é fazer algo bom pelo lugar, comece não sendo totalmente cego para os fatores que trouxeram decadência para o arquipélago e perceba que eles não estão lá fora.

Em segundo lugar, a ordem dos fatores e o senso das proporções -- sempre, sempre, sempre. A comoção popular por causa de problemas que afligem toda a população é algo bem comum -- e doentio. O cidadão vê problemas nos serviços públicos de saúde e quer -- como tantas outras pessoas -- bater boca com os manda-chuvas. Ora, se tudo estivesse às mil maravilhas, os manda-chuvas estariam à disposição para receber os cumprimentos. Como nada está às mil maravilhas, o máximo que você conseguirá é ver a cara de sádica da secretária do manda-chuva dizendo que o sujeito está em reunião. Ele tem mais o que fazer e você também tem. Não desperdice bala. Quando falo de "ordem dos fatores" e de "senso das proporções", eu quero dizer o seguinte: cuide do próprio nariz com seu próprio esforço. A rede pública de saúde está um caos? Cuide da sua própria saúde e da dos seus familiares. A violência urbana é um problema preocupante? Vá conhecer seu vizinho e mostre sua cara a ele; cultive um ambiente seguro em casa e nos arredores. Os espaços públicos estão abandonados, sujos e mal tratados? Qual foi a última vez que vocês os utilizou? Como está a sua calçada? É possível plantar uma árvore na frente de sua casa?

Muitas pessoas se irritam comigo quando digo que Ilhabela acabou. De fato, não há motivos para crer que a cidade que conheci no início dos anos 80 pode existir novamente. O tempo é uma das poucas coisas de mão única. O que pode voltar é aquilo que ainda existe. Cada vez que um turista chega a Ilhabela em busca de lampejos daquela tranqüilidade de outrora, abre-se a oportunidade para um caiçara se pronunciar, resgatar tradições que permanecem adormecidas, mas que ainda não morreram. Cada vez que alguém busca um telhado simples e sem forro, numa casa de tijolos de barro e caiação simples, a Ilhabela de décadas atrás encontra novo fôlego.

Mas são poucas as pessoas que se contentam com a riqueza das coisas simples. O conforto metropolitano faz falta para essas pessoas, que se incomodam com os pés sujos de areia ou de lama. Essas pessoas preferem burocracia, maquiagem, leis e um tipo de conforto que flerta com aparelhos de ar condicionado, guias turísticos ocos, palavras e ações oficiais. São gente que não gosta de gente. Gente que não gosta de lugar. Gente que constrói demais, que modifica demais, que derruba demais, que gasta demais e que vende demais. E que depois se queixa que Ilhabela já não é como antes. Essa gente merece passar as férias na Disney. Essa gente só quer souvernirs.

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terça-feira, setembro 22, 2009

Coisas perenes



O destino de todas as cidades turísticas é desmanchar naquilo que as pessoas acham que elas são. Há uma natural tendência de tomá-las por aquilo que elas aparentam ser sem avaliar se essa aparência tem alguma relação com a realidade.

É claro que ser e aparência não são atributos estanques, mas, por exemplo, há algo no modo de vida dos antigos que está completamente desligado da imagem associada aos lugares turísticos.

As pessoas costumam ver somente aquilo que está diante delas, no momento presente. Tudo o mais é ignorado e submetido a uma cegueira auto-infligida. Pior do que cegar-se voluntariamente é acostumar-se a não mostrar as coisas importantes -- por exemplo, as coisas perenes sobre as quais foram construídas as coisas boas que existem hoje.

Respeito e gratidão são dois bons motivos para ver e mostrar as coisas perenes, mas até mesmo o instinto de sobrevivência poderá mostrar a sensatez destas ações.

terça-feira, setembro 01, 2009

Florais de Bach



Atualmente existem muitos tipos de terapias alternativas com a finalidade de trabalhar as emoções. Nem todas são reconhecidas pela OMS – Organização Mundial da Saúde.

A terapia com Florais de Bach é reconhecida desde 1976.

O que são florais?

Essências extraídas de determinadas plantas que, segundo Edward Bach, criador da Terapia Floral, representam uma qualidade da alma. Bach catalogou 38 essências, relacionadas com as 38 qualidades que abrigamos como potencialidades, virtudes, ou Centelhas Divinas.
Segundo sua teoria, baseada em estudos e experiências vivenciadas em si mesmo, nossas emoções se distribuem basicamente em 7 grupos: medo, indecisão, desinteresse e desânimo, solidão, sensibilidade excessiva, desespero, preocupação excessiva.
De que maneira agem os florais?

Equilibrando nossas energias, abrindo nosso campo sensorial para nos percebermos integralmente. Os florais não tratam os sintomas. Quando sentimos dor, por exemplo, tomamos um analgésico. O floral não vai “curar” a dor, embora possa amenizá-la. Ele vai agir na causa da dor.

"Nossa saúde física depende do nosso modo de pensar, dos nossos sentimentos e de nossas emoções" -- Edward Bach.

Com a ajuda de um bom profissional, o processo na Terapia Floral é simples, rápido e eficiente. A Terapia Floral consiste numa primeira consulta quando o terapeuta, juntamente com o paciente, vai levantar as questões conflitantes e detectar as emoções a serem trabalhadas. Cada terapeuta tem seu método. Geralmente a consulta transcorre em uma hora a uma hora e meia. Ao final, sempre contando com a participação do paciente, são escolhidas as essências apropriadas para cada caso.

A consulta terapêutica é o momento em que o terapeuta dará ao paciente, todas as informações e recomendações para que o tratamento transcorra corretamente. Um retorno para avaliação, deverá ocorrer entre 45 a 60 dias.

Os florais não impedem nem substituem tratamento médico. Se estiver em tratamento, o paciente deve sempre seguir as orientações médicas. Também não apresentam efeitos colaterais, não causam dependência e não interferem com outros medicamentos. Podem ser usados por adultos, crianças, animais e até mesmo plantas.

Tudo que tem vida tem a Centelha Divina e por isso pode se beneficiar com o uso dos florais.

Uma excelente leitura sobre o tema é o livro do próprio Edward Bach, "Os remédios florais do Dr. Bach", em que ele expõe com clareza e objetividade, toda a base teórica da Terapia Floral.

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Em Ilhabela, caso queira orientação para tratamento com Florais de Bach, consulte Sonia Rocha, terapeuta floral.

quarta-feira, agosto 12, 2009

Símbolo de Ilhabela

A estátua do caiçara desconhecido, em todo seu esplendor. Que linhas! Que proporções! Que fidelidade! Que porcaria...


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(meus agradecimentos à Marie Asmar por ceder a imagem)

sábado, agosto 08, 2009

Artistas de Ilhabela I

Esta semana recebi material maravilhoso de uma artista que é injustamente desconhecida em Ilhabela. É impossível não se perder contemplando as minúcias do quadro da sereia. Compartilho este material com vocês:









A artista chama-se Regina, que assina seus quadros como Marregi. Quem quiser agendar exposições, adquirir seus quadros ou simplesmente parabenizá-la pela beleza de seus quadros, envie um email para marregiartes@bol.com.br

segunda-feira, julho 20, 2009

Adagio molto



Este blog vai entrar em recesso por tempo indeterminado. Como alguns já devem saber, estou passando um período fora de Ilhabela e há chances de não voltar.

Nas primeiras semanas longe de Ilhabela acreditei que poderia manter minha ligação com o lugar -- e continuar colaborando com escritos e reflexões, tanto neste blog como no jornal Canal Aberto, em que eu costumava escrever. Mas houve o deslocamento, claro, e a mente tende a se situar onde o corpo está. As tentativas de manter a mente com foco nos problemas e questões de Ilhabela não funcionaram. É claro que para poder pensar e escrever decentemente sobre um lugar é necessário estar nele -- sobretudo porque este não é um blog de ficção.

Em razão disso, comunico aos dois leitores deste blog que as atividades aqui estão suspensas provisoriamente. Eventuais novidades serão publicadas aqui, é claro, e é possível que novas idéias e reflexões sobre Ilhabela surjam, mas convido-os a me acompanhar em meu site pessoal.

A todos que têm acompanhado o Insular, muito obrigado.

Update: quem tiver algum interesse em publicar neste espaço escritos sobre Ilhabela e contribuir não apenas com o Insular mas com as discussões sobre os problemas locais, basta me mandar um email: ilhabela [arroba] ig.com.br

Embora afastado das questões ilhabelenses, prometo analisar o texto cuidadosamente e, de fato o texto se mostrar adequado, publicá-lo em seguida.

A quem quiser colaborar, fica aqui meu convite.

terça-feira, junho 23, 2009

Pense pequeno



Meu artigo mais recente no jornal Canal Aberto.
Seja qual for o ramo, assunto ou objetivo, Ilhabela caiu há tempos no conto do «pense grande» e, mesmo que continue sendo uma cidade pequena, mesmo que consiga o milagre de manter intactos os limites do Parque Estadual, mesmo que não esgote completamente a beleza que ainda resiste em seus limites urbanos, já deixou de ser uma cidade pequena, já se alinhou com aquilo que de pior existe nas cidades grandes. Pode ser pequena, mas pensa grande há muito tempo.

sábado, maio 30, 2009

Questão de ordem

violência

Meu artigo mais recente no jornal Canal Aberto.
O Estado organizou-se bastante para assuntos que considera fundamentais, como alimentos saudáveis em cantinas escolares, a cruzada antitabagista em estabelecimentos privados e as lágrimas da menina Maísa na TV. Enquanto isso, quarenta mil homicídios por ano não são suficientes para tornar o assunto prioridade máxima. Mata-se mais no democrático e malemolente Brasil do que no radical e belicoso Oriente Médio.

terça-feira, maio 26, 2009

Cidade e Natureza

ilhabela satélite

O título deste post é também o título de minha dissertação de mestrado. Depois de três anos de estudos, terminei a pós-graduação e entreguei a pesquisa, sob orientação do Prof. Dr. Fábio Mariz Gonçalves, a quem sou profundamente grato.

Não posso deixar de registrar também minha gratidão à minha namorada e à minha mãe -- duas pessoas fundamentais em minha vida, que me apoiaram de diversas formas. Sem elas meu mestrado nem teria começado.

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Postarei aqui apenas o resumo e a introdução, que explicam bastante coisa sobre a dissertação. Quem tiver interesse em ler a pesquisa na íntegra poderá baixá-la aqui.

Comentários são bem-vindos.

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Resumo

Este trabalho discute a evolução urbana de Ilhabela e seus desdobramentos sobre a paisagem e o meio ambiente. Nas últimas quatro décadas o crescimento econômico e populacional trouxe importantes transformações para as cidades turísticas do litoral brasileiro, em especial para Ilhabela, cidade-arquipélago situada no Litoral Norte do Estado de São Paulo. Estas transformações são analisadas ao longo deste trabalho, bem como a importância do turismo e do mercado imobiliário nesse processo. Este trabalho também analisa alguns empreendimentos imobiliários de Ilhabela como forma de compreender as articulações entre o mercado imobiliário, o turismo e as políticas públicas para o meio ambiente e o desenvolvimento urbano.

Palavras-chave: Ilhabela, litoral norte paulista, urbanização do litoral, paisagem litorânea, mercado imobiliário, turismo


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Introdução

No fim da década de 1950 o município-arquipélago de Ilhabela integrou-se ao restante do Litoral Norte do Estado de São Paulo com a instalação do serviço de travessia marítima. O acesso à cidade, antes realizado em canoas caiçaras, passou a ser realizado com balsas, o que permitiu a entrada de veículos, inclusive pequenos caminhões. Essa pequena mudança na rotina da cidade foi reflexo de transformações nacionais e regionais mais amplas. Ao mesmo tempo, a acessibilidade a Ilhabela foi o primeiro estágio de uma série de grandes transformações que se estendem até os dias de hoje.

Com o acesso à cidade vieram o turismo e a construção civil, que logo se tornaram as principais atividades econômicas de Ilhabela. Esta mudança ajuda a explicar fenômenos como a migração, o veranismo, o crescimento populacional e a ocupação desordenada, a especulação imobiliária, entre vários outros que fizeram parte da constituição de Ilhabela nas últimas quatro décadas e que decorrem daquelas duas atividades.

No final da década de 1970, a criação do Parque Estadual de Ilhabela foi o reconhecimento do valor ambiental e paisagístico do arquipélago. Paradoxalmente, esse reconhecimento impulsionou as duas atividades de maior impacto sobre o meio ambiente -- turismo e mercado imobiliário.

A necessidade de preservar as condições ambientais e paisagísticas originais de Ilhabela -- que permitiram o florescimento daquelas duas atividades -- trouxe questões que até hoje não encontraram respostas adequadas. A continuidade dos modelos adotados atualmente pelo turismo e pelo mercado imobiliário representará o esgotamento dos recursos naturais e causará alterações drásticas na paisagem de Ilhabela, o que poderá inclusive inviabilizar essas duas atividades — tal é o dilema que ora se coloca.

Este trabalho discute a formação de Ilhabela a partir do advento do turismo e do mercado imobiliário e a forma como estas atividades alteram a paisagem do arquipélago e são influenciadas por ela. Além disso, este trabalho também discute o surgimento dessas atividades e a articulação entre elas e a paisagem.

O que motivou este trabalho desde seu início foi a idéia de que os problemas que ora se apresentam na cidade estão relacionados com a forma como os protagonistas da formação urbana de Ilhabela compreendem este lugar. Neste sentido, cada atividade desenvolvida no arquipélago é movida por razões particulares e representa também uma postura particular diante das questões ambientais e paisagísticas que determinam a morfologia da cidade e a qualidade do espaço para seus habitantes. Assim, outro objetivo desta pesquisa foi observar essas razões e posturas e analisá-las à luz das características ambientais e paisagísticas de Ilhabela.

Este trabalho está dividido em três partes. A primeira apresenta o arquipélago e o município de Ilhabela, focalizando sua história urbana recente e os aspectos paisagísticos e ambientais das transformações pelas quais a cidade passou nesse período.

A segunda parte apresenta como cerne as diversas formas e conceitos que o turismo e o mercado imobiliário adotam para apreender e alterar a paisagem. Entre os temas abordados nesta parte estão a evolução recente do mercado imobiliário, sobretudo nas cidades turísticas costeiras; os anúncios publicitários e as estratégias de marketing adotadas para a comercialização de empreendimentos imobiliários; e, finalmente, o entendimento que o turismo e o mercado imobiliário possuem das questões ambientais, paisagísticas e fundiárias diretamente relacionadas àquelas cidades.

A terceira parte discute a evolução urbana de Ilhabela e os principais fatores que condicionaram esta evolução; a atitude do mercado imobiliário e do turismo neste processo; o impacto ambiental e paisagístico de alguns empreendimentos realizados em Ilhabela; o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Ilhabela (PDDI); e a postura do poder público e da sociedade civil diante dos problemas urbanos do arquipélago.

Esta parte da pesquisa divide-se conceitualmente em três partes: iniciativa privada, poder público e sociedade -- discutidas respectivamente nos capítulos 3.2, 3.3 e 3.4. O capítulo 3.2, ao tratar do mercado imobiliário, do turismo e dos empreendimentos, busca discutir o papel da iniciativa privada nas transformações ambientais e paisagísticas de Ilhabela. O capítulo 3.3 discute o papel do poder público municipal naquelas transformações. Por fim, o capítulo 3.4 avalia o entendimento que a sociedade — profissionais do setor imobiliário, formadores de opinião, imprensa e organizações não-governamentais -- tem sobre essas transformações.

sexta-feira, maio 15, 2009

Alvos fáceis



Em meu artigo desta semana no jornal Canal Aberto, destaco a questão da violência urbana e da criminalidade.
O poder público transmite um recado importante ao não colocar a defesa da vida como prioridade máxima em seus trabalhos. A competência para um cargo público pode ser medida pela forma como o sujeito define suas prioridades. Para trabalhar, investir no turismo e no mercado imobiliário, defender o meio ambiente e melhorar a infra-estrutura municipal é necessário antes estar vivo e ter a certeza de que sua família e seus bens não serão ameaçados. Qual brasileiro hoje pode ter essa certeza? Se nem mesmo os responsáveis por manter a paz e a ordem não têm senso de prioridades e não conseguem garantir a própria integridade, que dizer de cidadãos comuns?
Em minha opinião, a segurança pública e a defesa da vida deveriam ser as prioridades máximas de qualquer cidade. Todas as ações e políticas públicas deveriam ser desenvolvidas e avaliadas conforme a relação que têm com essas prioridades.

Por exemplo, a educação formal tem importante papel preventivo, assim como outros serviços e ações sociais básicas, como saúde e geração de empregos. Ações estruturais -- como realização de obras públicas -- interferem em alguma medida na segurança pública, já que delas podem depender a acessibilidade, a facilidade de deslocamento e a prevenção de crimes.

Naturalmente, algumas ações interferem diretamente. Outras, indiretamente. Mas há algumas que não interferem em nada. Em meu artigo eu chego a mencionar algumas ações públicas que são absolutamente inócuas e que deveriam ser deixadas de lado até que a criminalidade despenque a níveis humanamente aceitáveis.

Destaco ainda o peso que os crimes contra o patrimônio têm em Ilhabela. São freqüentes as ocorrências desse tipo, ainda que haja pouca divulgação pela imprensa local e regional. Muitas pessoas subestimam a importância desses crimes, já que eles afetam geralmente pessoas de poder aquisitivo mais alto, que, com efeito, recorrem a estruturas e serviços de segurança particular. Mas os crimes contra o patrimônio estimulam outras formas de crime, inclusive o organizado. E são ameaças à vida como qualquer outro crime.

Destaco também o problema da violência urbana representado por brigas e agressões -- bastante comuns na noite ilhabelense, principalmente em finais de semana. Estas ocorrências são as menos registradas e, por isso, raramente participam das estatísticas. É importante lembrar que um brutamontes que se põe a brigar na rua ou numa balada está cometendo um crime. Ao mesmo tempo ele colabora para piorar o ambiente social, como se este já não estivesse insuportavelmente ruim e violento.

Fico surpreso quando vejo que a maioria dos briguentos é gente conhecida, gente que freqüenta bares, restaurantes e eventos sociais em Ilhabela. Essas pessoas participam da sociedade ilhabelense como se fossem sujeitos dignos de respeito, como se o espancamento fosse um expediente razoável para resolver conflitos sociais.

Mas a surpresa diminui quando lembro que a história recente de Ilhabela traz inúmeros casos de pessoas públicas que saíram na mão, que chegaram às vias de fato. Quando até os homens públicos resolvem desavenças na porrada, o que esperar das pessoas que votam neles, que pagam seus salários, que seguem suas leis?

Talvez as coisas mudem quando houver uma intolerância generalizada a todas as formas de violência.

quinta-feira, maio 07, 2009

Proibido vender coxinha

Cigarros, coxinhas, batatas fritas, guaraná e os consumidores e comerciantes desses produtos são elevados à categoria de vilões. Enquanto isso, os verdadeiros vilões permanecem livres. Certamente é mais fácil proibir o consumo de coxinhas do que o consumo de maconha e cocaína; assim, o Estado constrói uma imagem de bom-mocismo e competência às custas da liberdade do cidadão. Só que o Estado não está genuinamente interessado em defender o cidadão. O Estado está interessado em aumentar o próprio poder, em invadir a vida do cidadão com restrições cada vez maiores e mais numerosas e em livrar-se das responsabilidades que não foi capaz de cumprir até hoje, pois o que é visto ajuda a esconder o que não é visto.

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Como o leitor poderá notar, meu artigo da quinzena no jornal Canal Aberto não trata de assuntos diretamente ligados a Ilhabela. Minha intenção foi, no entanto, alertar para a criatividade dos legisladores, que não é exclusiva dos deputados estaduais.

Em Santos, por exemplo, vereadores aprovaram lei que obriga restaurantes a fornecer fio dental para seus clientes. O que mais impressiona nessas iniciativas é, como disse em meu artigo, o aplauso geral. Muitas vezes nem mesmo os comerciantes vêem nessas leis qualquer traço de totalitarismo.

Oras, nada contra oferecer fio dental, alimentos saudáveis, cafuné, o que quer que seja aos clientes de restaurantes e de outros estabelecimentos. Recentemente estive num restaurante em cujo banheiro havia não apenas fio dental, como enxaguatório bucal -- achei genial. Acho apenas que isso não é da conta do Estado; deputados e vereadores simplesmente não devem perder tempo com essas questões.

Eu e você pagamos (alto) a essas pessoas para que cuidem de assuntos realmente importantes. Não me interessa ter fio dental no banheiro de um restaurante se ao sair de lá eu fico preso num engarrafamento ou se sou assaltado no primeiro semáforo em que paro.

As coisas essenciais estão longe de ser resolvidas. Logo, para o inferno com a criatividade para inventar leis -- aqui em Ilhabela, em Santos, em São Paulo, em qualquer lugar.


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Nota de agradecimento: por sugestão do leitor Pedro Volcoff, alterei a imagem do topo do blog (header). O próprio Pedro muito generosamente desenvolveu o novo layout e me mandou a imagem via email. A foto continua sendo a de sempre -- a praia do Pequeá (Engenho d'Água), foto que fiz em 2007 --, mas o novo layout é dele. Ao leitor-designer, meus sinceros agradecimentos.

terça-feira, maio 05, 2009

Lição de casa

ilhabela ocupação urbana
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A lição de casa da semana é ler O nosso espião do espaço, matéria da VejaSP sobre a ocupação urbana no Litoral Norte SP. Eis a introdução:
Um dos cenários mais belos de toda a costa brasileira, o Litoral Norte de São Paulo reúne o céu e o inferno em suas praias espremidas entre o Oceano Atlântico e as montanhas verdes da Serra do Mar. Quem percorre a Rodovia Rio-Santos assiste atônito à sobreposição de paisagens: costões, curtas faixas de areia, mar cristalino, ilhotas e... favelas. Cada vez mais favelas. Os aglomerados de barracos que invadem a maior faixa contínua de Mata Atlântica do país estão ali por um problema demográfico. Desde 1985, quando a estrada foi asfaltada, a população dos municípios de São Sebastião, Caraguatatuba, Ubatuba e Ilhabela praticamente triplicou. Como 80% do território faz parte de parques estaduais (da Serra do Mar e de Ilhabela) e os outros 20% estão salpicados de áreas de preservação permanente, como mangues, restingas e beiras de rio, o espaço físico disponível para ocupação humana é limitadíssimo. Mesmo assim, o poder público assistiu de braços cruzados à invasão desse paraíso. Com a chegada de turistas atraídos pela facilidade de acesso e de migrantes que viam no boom imobiliário oportunidades de emprego, desapareceram do mapa 730 hectares de bromélias, orquídeas, palmitos, ipês... Uma área equivalente a quase cinco parques do Ibirapuera.

Além do desmatamento, essa expansão frenética vem deflagrando uma série de outros problemas. Sem sistema de tratamento, o esgoto contamina o solo e a água. Como consequência, os rios e as praias ficam poluídos. Por falta de espaço para aterrar o lixo, tudo o que se descarta na região tem de ser transportado para outras cidades. Não raro o transbordo causa acidentes na estrada que corta a floresta. Há ainda o funcionamento desordenado das marinas, que despejam óleo, combustível e outros produtos tóxicos na areia e no mar. Para fiscalizar os quatro municípios, a Polícia Militar Ambiental dispõe de 110 homens. É pouco. Outras 323 pessoas trabalham para evitar invasões e conter a ação de caçadores dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, um terço delas na porção que fica no Litoral Norte. São insuficientes também. Para piorar esse cenário, estão previstas ali quatro obras de grande porte. Até 2013, o Porto de São Sebastião deve ser ampliado e a Rodovia dos Tamoios, que liga Caraguatatuba a São José dos Campos, duplicada. A Petrobras pretende construir uma unidade de tratamento de gás e um gasoduto que cortará a serra ao meio. Além dos impactos ambientais inerentes a essas intervenções, elas criarão 4 000 postos de trabalho e atrairão ainda mais gente.

quinta-feira, abril 16, 2009

Sobre a nova enquete



Como alguns já devem ter notado, perguntei aí ao lado, na nova enquete, se Ilhabela (i.e. o poder público municipal) deve limitar a entrada de veículos no arquipélago.

Ano passado foram discutidas diversas formas de criar essa limitação, diante da necessidade cada vez maior de lidar com os problemas causados pelo excesso de veículos, principalmente em feriados.

Não surgiram soluções que levassem a essa limitação. No máximo foi criada a «taxa ambiental», o que, na cabeça de seus criadores, poderia compensar o caos gerado pelo excesso de veículos no município. A taxa ambiental não compensou nada, é evidente, e ainda aumentou o custo para entrar no município.

Diante disso é razoável perguntar, se essa limitação é desejável. Em seguida, se for o caso, podemos pensar em discutir os meios de criar efetivamente essa limitação -- porque a taxa ambiental não cumpre essa função, embora sempre estivesse associada a essa iniciativa.

Por favor participem da enquete. E quem quiser comentar esse tema, poste um comentário no link abaixo.

A todos, muito obrigado.

Cresçam

Se eu tivesse o péssimo hábito que 90% da população tem de apelar para o vereador mais próximo tão logo apareça um buraquinho na rua, eu pediria não o recalçamento das ruas do meu bairro, mas idéias, propostas e ações que diminuissem a importância que os políticos têm sobre nossas vidas. Eu pediria meios de fazer a população crescer moralmente e dispensar a ação política como principal instrumento para o desenvolvimento da cidade.

Ou você acha que políticos são eleitos em razão de sua superioridade moral e intelectual?

domingo, abril 12, 2009

Aulas de Aikido

ueshiba aikido

O grupo de Aikido de Ilhabela está com novos horários de treinos. A partir deste mês temos também treinos matinais, das 7:30 às 9:00.

É bem provável que os horários noturnos continuem. Na dúvida, informem-se aqui ou pelos telefones.

Os treinos são abertos a todos os interessados -- ambos os sexos e todas as idades.

Mais informações sobre o Aikido, aqui.

A todos, muito obrigado. E sejam bem-vindos.

sexta-feira, abril 03, 2009

Bom dia, boa tarde, boa noite

Leia na íntegra meu artigo mais recente no jornal Canal Aberto.
O isolamento causado pelas modernas soluções de segurança criam campo fértil para que a violência urbana se propague — «tão seguro que nem o Estado de Direito consegue entrar», dizia um amigo meu. Quanto menos contato houver entre vizinhos, quanto mais frágeis forem os laços sociais, mais fácil será circular anonimamente em qualquer lugar — espécie de invisibilidade urbana, o sonho de qualquer criminoso. Mesmo abarrotada de pessoas, Ilhabela tornou-se terra de ninguém. Ironicamente, a especulação imobiliária, que pretende que toda terra seja «de alguém», só conseguiu tornar os laços sociais ainda mais frágeis.

Bom pra quem?



Em breve terminará mais uma temporada de navios. Ano após ano, mais e mais navios vêm para Ilhabela, despejando todo tipo de turista no arquipélago.

Um único navio atracado altera muito a rotina da Vila, torna inviável pedalar na ciclovia e cria um caos na Vila -- mas em várias ocasiões houve dois, até três navios atracados no Canal de São Sebastião de uma vez só.

Eu me pergunto sobre os reais benefícios da temporada de navios.

O comércio da Vila se beneficia, mas institui-se uma rotina nervosa nesses estabelecimentos, que coloca em terceiro (ou quarto ou quinto) plano o cliente habitual.

Jipeiros e taxistas se beneficiam, mas o trânsito sofre. A Vila fica congestionada e a avenida é tomada por carreatas de jipes e táxis.

Ilhabela ganha destaque como destino turístico, mas o turista que vem nos navios não me parece ser muito diferente daquele que vem para cá de carro nos feriados e temporadas de verão. A proliferação de «cruzeiros temáticos» e de cruzeiros-balada» reforça a idéia de que o turista dos navios é apenas o mesmo turista de sempre, só que em versão «sem rodas». Com isso Ilhabela continua no foco de um turismo que aparentemente nunca interessou mas que sempre foi praticado no arquipélago.

Quais são os verdadeiros benefícios da temporada de navios?

Receio que não haja benefícios reais ou suficientes para justificar o aumento do número de navios a cada temporada. A desorganização no desembarque desses turistas, a forma como se apoderam da ciclovia, da avenida, das praias próximas e das cachoeiras aonde são levados demonstra que se trata realmente de uma versão do turismo de massa.

Isto é bom pra quem?


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quarta-feira, março 25, 2009

Março

castelhanos

Não sei como é para vocês, mas para mim a baixa temporada compensa os meses de praias, ruas e estabelecimentos lotados. Abro mão dos meses de verão e dos feriados em troca de dias e noites de absoluto silêncio e quietude.

Eu havia esquecido como isso era, mas numa noite da semana passada, voltando para casa a pé, lembrei.

Caminhava como costumo fazer, a passos firmes e rápidos e ouvindo música em meu headphone. De repente notei que não havia ninguém na avenida e que havia um silêncio diferente ao redor. Num trajeto de mais de meia hora de caminhada pude contar nos dedos os carros que passaram por mim. Na Vila, a maioria dos estabelecimentos estava fechada -- e nem passava das dez da noite. Os poucos estabelecimentos abertos atendiam poucos clientes, decerto satisfeitos com o bom atendimento -- inevitável quando a maioria das mesas está livre.

A temporada ainda resiste; os navios de passageiros garantem aquela dose mínima de caos, dia sim, dia não. Felizmente isso terminará e Ilhabela mergulhará novamente no mais absoluto silêncio, donde jamais deveria ter saído.


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segunda-feira, março 23, 2009

Ilhabela sem Ilhabela

Meu artigo mais recente no jornal Canal Aberto.
Nem mesmo Brasília, modelo de planejamento urbano, conseguiu tornar o cerrado melhor. O que dizer de cidades não planejadas? Alguma cidade do Litoral Norte conseguiu melhorar a Mata Atlântica? Alguma cidade conseguiu melhorar a natureza ao seu redor?

terça-feira, março 17, 2009

Vendo câmera fotográfica

samsung nv15

Estou vendendo uma câmera Samsung NV15, com as seguintes especificações:

-- 10.1 MPixels, altíssima qualidade de imagens para fotos e vídeos.
-- semiprofissional
-- lente alemã Schneider-Kreuznach
-- zoom 5x
-- diversos recursos e modos de funcionamento
-- reconhecimento de rostos e 'anti-shake'
-- flash retrátil
-- teclas sensíveis 'smart touch'
-- visor de 2,5"
-- filma com áudio
-- acompanha capa protetora original, cabos, carregador e cartão de 2GB de memória

Mais informações aqui.

Preço: R$ 500

Informações pelo email ilhabela[arroba]ig.com.br ou deixe um comentário neste post para que eu entre em contato.

quinta-feira, março 12, 2009

Versus

casa

Pode ser só impressão minha, mas talvez valha a pena expor aqui a idéia que me ocorreu para saber o que pensam os leitores que vivem ou visitam Ilhabela.

A idéia é a seguinte.

O que chamamos de Ilhabela é formado hoje de dois corpos distintos: o arquipélago e a cidade. O arquipélago tenta há tempos livrar-se da cidade, que só faz crescer e aumentar sua influência sobre ele.

A relação entre esses dois corpos é semelhante àquela observada numa pessoa tomada por um câncer ou outra doença grave. Doenças simples tendem a se espalhar e é o que de fato ocorre quando a condição física da pessoa é frágil e a doença grave. Em condições normais, a doença é eliminada naturalmente pelo corpo, que também se recupera de eventuais seqüelas deixadas pela doença.

O que se vê em Ilhabela é o esforço constante da cidade para ocupar mais e mais recantos preservados do arquipélago. Ao mesmo tempo, se fosse deixado em paz, o arquipélago faria a cidade se desmanchar -- que é o que se vê em ruínas históricas e em filmes que mostram a extinção da humanidade: construções tomadas pelas plantas, animais selvagens rondando ruas e casas cujas portas e janelas se desfizeram. Sem a cidade, as águas do Canal de São Sebastião voltariam a ser cristalinas e os peixes se multiplicariam. Seria o paraíso a que muitas pessoas se referem quando vêm para Ilhabela, conforme a idéia bíblica que o define como lugar bom, puro e intocado pelos vícios do homem.

Como só há sentido em analisar um lugar em que o homem está presente, percebemos facilmente que este lugar é regido por leis e por atividades humanas. Isto é, de um lado existe a necessidade constante de expandir a cidade, investir, construir, vender e revender e, claro, de manter esse moto contínuo. De outro, existem leis e esforços (pequenos, é claro) no sentido de limitar esse moto contínuo e de transformar aquela necessidade conforme as limitações naturais do arquipélago.

Ocorre no entanto que estes esforços sempre serão falhos. Em sentido estrito, vê-se que ninguém -- dos responsáveis pela elaboração de leis àqueles que as aplicam ou que as ignoram -- encontra-se numa situação tal que lhe permita afirmar com certeza que uma vida inteiramente natural é inerentemente boa. Em outras palavras, ninguém experimentou genuinamente uma vida natural e, portanto, ninguém sabe o que exatamente é o arquipélago, quais são suas qualidades e quais benefícios ele tem a oferecer para a cidade. Via de regra, todas as pessoas -- mesmo as mais ecologicamente xiitas -- trabalham no sentido de tentar conciliar cidade e arquipélago, o que parte sempre do pressuposto de que a cidade é algo bom. Mas não há conciliação possível: a cidade é um processo, o arquipélago é um dado. E se não há conciliação possível, todo esforço nesse sentido cai no vazio que mantém o crescimento da cidade tal como ele sempre foi, assim como mantém também o eterno conflito entre cidade e arquipélago.

A ignorância em relação à impossibilidade de conciliar cidade e arquipélago garante a repetição do processo de destruição do arquipélago. Esse processo pode ser suavizado, mas sem a compreensão do que é a cidade (um processo) e do que é o arquipélago (um dado), não há qualquer conciliação possível.

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quarta-feira, março 11, 2009

Causar, desfrutar, faturar



Meu artigo mais recente no jornal Canal Aberto
O turista, por definição, está dispensado de ter pleno conhecimento do lugar que visita. Não importa para ele se Ilhabela não é exatamente como aparece no cartão postal, importa apenas que haja sol e que ele possa se divertir — há varias empresas e estabelecimentos dispostos a enfeitiçar o turista. Se as praias e as cachoeiras estiverem sujas (estão), piscinas e cervejas geladas garantirão o frescor dos feriados e finais de semana. Nestas condições o turista ignorará o fato de estar em Ilhabela. Alegria e êxtase à mesma proporção do volume do som e do teor de tóxicos no sangue e na alma do sujeito. Os verbos do turista são festejar e, como diz a moçada, causar (outrora conhecido como “gazetear”).

terça-feira, março 03, 2009

O ralo de Ilhabela

esgoto praia

Meu artigo mais recente no jornal Canal Aberto.

O mar não suporta tudo. O Canal de São Sebastião, dadas suas características geográficas, suporta menos ainda. A ausência de mar aberto no lado mais povoado de Ilhabela nos leva a depender do regime de marés para dissipar o esgoto que chega ao mar. Nem sempre ele se dissipa; às vezes o esgoto fica passeando entre as praias banhadas pelas águas do Canal de São Sebastião. A única vantagem desse estado de coisas é que aqui o cocô sempre bóia e o mar sempre fede, denunciando os maus tratos constantes. O Canal de São Sebastião é um ralo sem sifão. No lado urbano de Ilhabela não há mar aberto que permita dissolver o esgoto antes que ele seja notado; ele sempre será notado — visto, aspirado, engolido, sentido na pele. Não há miopia, ignorância ou incompetência que impeçam o sujeito de notar a decadência das praias ilhabelenses ou que possam torná-lo imune à micose.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Miudezas da Câmara

ilhabela vila


Logicamente nem tudo se resume a miudezas, mas tenho observado as ações recentes da Câmara e tenho ficado surpreso com a insistência de alguns vereadores em ações como

-- Reinício de obras de pavimentação na Rua da Senzala
-- Manutenção, limpeza e extensão da rede elétrica na SP 131
-- Transformar “pedras do sino” em Patrimônio Histórico


(trechos dos títulos das notícias recentes da Câmara)

Nada contra as miudezas e eu sei que essas ações são, muitas vezes, parte do compromisso que alguns vereadores assumiram com suas respectivas comunidades.

O que me incomoda é que enquanto isso questões fundamentais para todo o município simplesmente não são discutidas ou resolvidas. Por exemplo: a questão fundiária de Ilhabela, com construções irregulares e graves conseqüências ambientais. Outro exemplo: a violência em Ilhabela está longe de ser um assunto banal. Mais um exemplo: a balneabilidade das praias.

O vereador não precisa ser super pró-ativo, basta fiscalizar a atuação do Executivo, basta acompanhar o andamento de suas ações, basta usar seu nome e status para cobrar ações dos órgãos competentes. Mas, concentrado em miudezas, dificilmente haverá a consciência da importância dos temas que afetam toda a cidade.


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sábado, fevereiro 07, 2009

Preparando a própria forca



Meu artigo mais recente no jornal Canal Aberto.

É a moral que leva o empresário a explorar o turismo; a falta de moral leva-o a explorar o turista. A diferença é evidente, mas a confusão entre essas duas atitudes é possível quando o empresário não tem (ou não quer ter) a noção do que a moral representa para seu negócio. Ignorando a moral, o empresário não verá diferença entre explorar a atividade e explorar pessoas; logo estará explorando não só seus clientes, mas também seus funcionários e todos aqueles que de alguma forma poderiam ajudar seu negócio. No início isto poderá elevar o faturamento; com as burras cheias de dinheiro, o empresário pensará que está no rumo certo e continuará a explorar as pessoas. Eventuais problemas com clientes e funcionários serão tratados com a frieza necessária para enxotar e demitir, respectivamente — afinal, todos são livres para buscar outro estabelecimento para consumir ou trabalhar. Não haverá limites para enganar funcionários, modificar salários e contratos e, claro, sapecar calotes a três por dois. Com o tempo, as opções do caloteiro explorador diminuirão e o bom nome tornar-se-á cada vez mais rarefeito. Mas é surpreendente a tolerância que a sociedade tem com esses indivíduos. (...)


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Esta discussão pode ser um bom complemento a este artigo.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Fim de janeiro

estátua ilhabela

A estáuta da rotatória -- por Michelangelo, o que é aquilo?!? Vereadores ilhabelenses discutem a retirada da estátua e há quem diga que se trata de discussão sem importância, que há prioridades maiores. Há, sem dúvida, mas a mancha à porta da cidade também é assunto importante. Símbolos têm um peso difícil de medir sobre o imaginário dos habitantes de uma cidade.

Imagine o Rio de Janeiro sem o Cristo Redentor, ou Nova York sem a Estátua da Liberdade. Logicamente estes símbolos nem sempre estiveram lá, mas uma vez instalados, ajudaram na construção de uma identidade nos moradores daquelas cidades.

Não acho que seja prioridade substituir a estátua -- que pretendia representar um caiçara --, mas considero prioritário tirá-la de lá. Vai que as pessoas começam a se identificar com o monstrengo.

Confusões no Curral -- a DPNY tornou-se notícia em duas importantes revistas (VejaSP e IstoÉ) por conta de brigas ocorridas nas dependências daquele hotel. Vale a pena ler as duas matérias. De minha parte, espero que tudo seja minuciosamente apurado e os responsáveis sejam punidos.

Desde os anos 80 o Curral tem sido a praia mais badalada de Ilhabela. Criou-se aí um ambiente diferente do das demais praias de Ilhabela, movido a turismo de massas, mesas e cadeiras na areia da praia, muita concorrência entre todos aqueles que tentam se aproveitar financeiramente da grande movimentação comum nas temporadas e feriados.

O que houve na DPNY reflete de algum modo o tipo de ambiente em que o Curral se transformou: uma praia em que, mesmo com areia, sol e mar, as pessoas esquecem que estão em Ilhabela e transformam horas tranqüilas numa busca nervosa por um relaxamento que nunca virá.

Ciclovia -- entre as inúmeras discussões deste primeiro mês de nova gestão municipal, merece destaque aquela sobre a ciclovia. Discutem-se formas de melhorar e ampliar a ciclovia de Ilhabela. Entre as idéias disponíveis, há a perspectiva de desapropriar imóveis na orla (em especial no Perequê e no limite entre Itaguassu e Engenho d'Água) ou construir ciclofaixas. Esta opção se mostra mais viável e prática -- e é a que prefiro, como ciclista e como arquiteto.

Embora pareça assunto menor, a ampliação da ciclovia trará melhores condições para moradores, veranistas e turistas e, claro, reduzirá os problemas no trânsito de Ilhabela, marcado por diversos acidentes de moto e carro, alguns envolvendo ciclistas.

Mar de lama -- com chuva todas as semanas desde outubro, as praias do Canal de São Sebastião têm-se mostrado sistematicamente impróprias para banhos de mar. Isso prova -- como se já não houvesse provas suficientes -- que um dos maiores problemas para as duas cidades banhadas pelas águas do Canal é o saneamento básico (ou a falta dele).

A Sabesp tenta fazer sua parte, em vão. A Prefeitura de Ilhabela parece especialmente disposta a melhorar significativamente esse problema a partir deste ano. Trata-se de questão de saúde pública e de economia. Sem mar limpo o turismo torna-se inviável.

Falecimento -- morreu nas primeiras horas da última terça (dia 27 de janeiro de 2009) meu avô Francisco Rocha. Turistas, veranistas e moradores que estiveram em Ilhabela nas décadas de 70 e 80 certamente conheceram o "Seu Chico", como era conhecido meu avô, pioneiro do ramo das farmácias em Ilhabela. Era ele o responsável por tratar turistas pegos por águas vivas ou com espinhos de ouriço no pé numa época em que sua farmácia era parte importante do sistema público de saúde. Em 2007 escrevi este post, que fala um pouco mais sobre ele.
http://ilhabela.blogspot.com/2007/10/planto-de-farmcias.html

O velho Chico fez parte da história de Ilhabela. Ele veio para esta cidade em 1973 e esteve à frente da Farmácia e Drogaria Esperança até o início da década de 90, quando se aposentou e passou a direção do negócio para os filhos.

Meu avô havia completado 86 anos no dia anterior ao seu falecimento. A fragilidade de seus últimos anos esconde uma vida vivida intensamente, com lutas e vitórias constantes, realização e plenitude.

Que fique com Deus e descanse em paz.

sábado, janeiro 24, 2009

O espírito da coisa


A verdade é que esta cidade não produz nada. As pessoas vêm para cá, divertem-se, consomem, produzem lixo e esgoto e vão embora — ou permanecem, para continuar fazendo essas coisas pelo tempo que seu apreço por este lugar perdurar. Tudo se resume a isso. Quase todas as pessoas que aqui vivem dedicam-se a tornar esse processo cada vez mais fácil: quanto mais pessoas vierem, maior será o faturamento, maior será a prosperidade superficial que nada devolve de positivo para o arquipélago. A verdade é que este lugar estaria melhor sem nós, sem o turismo, sem ruas rasgando-lhe o tecido, sem construções que demandam desmatamento, sem o esgoto que polui o solo e as águas, sem ocupações ordenadas ou desordenadas, sem a pressão sobre os limites de áreas preservadas e frágeis.
Leia na íntegra meu artigo mais recente no jornal Canal Aberto.

terça-feira, janeiro 13, 2009

Verão em Ilhabela: só para turistas


Tudo tem um preço, mas em Ilhabela isso pode ser bem pior.

Escrevi isto hoje na comunidade Ilhabela do Orkut:
Estive num restaurante de Ilhabela em novembro último. Consternado e contrariado, paguei R$3,00 por um latinha de refrigerante -- porque a sede e o momento pediam. No mesmo restaurante, neste verão, constato que a mesma bebida -- uma coca comum -- havia saltado para R$4,50. E uma reles garrafinha de água mineral beirava os R$4,00 -- algo que pode ser comprado em qualquer mercado por menos de R$1,50.

Eu gostaria de entender o que leva a isso. Sei que pesa muito a questão oferta x demanda e é natural que num restaurante uma bebida custe um pouco mais do que custaria num mercado, por exemplo. O que me deixa encafifado é que no mercado uma garrafa de água que custa, suponhamos, R$1,50, obviamente tem embutido nesse preço o lucro que o mercado terá, que em produtos desse tipo beira os 100%. Se esse mesmo produto que no mercado é vendido por R$1,50 é vendido por R$4,00 no restaurante, isto significa um lucro muitas vezes maior do que aquele obtido pelo mercado.

Alguns donos de restaurantes poderiam argumentar que isso se deve ao fato de que os custos de um restaurante serem maiores e os ganhos serem inconstantes (sazonais), enquanto que um mercado proporcionalmente tem custos menores e faturamento o ano todo. Mas eu vejo que esse tipo de argumentação -- se realmente existe e procede -- é usada para sustentar certos abusos.

Além do abuso que uma lata de bebida a R$4,50 significa, há também o fato de que isso praticamente afasta os moradores desses estabelecimentos, dado que a maioria dos moradores não tem o mesmo poder aquisitivo da maioria dos turistas que vêm para Ilhabela no verão. Isso não era para ser um problema sério, mas a presença constante dos moradores nesses estabelecimentos poderia justamente reduzir o problema da sazonalidade que esses mesmos estabelecimentos enfrentam fora das temporadas.

Não pretendo postular que regras devem ser criadas etc. etc., mas de minha parte simplesmente não vou mais a esses estabelecimentos ou, se vou, simplesmente não consumo nada cujo preço considero abusivo.

Ilhabela tem restaurantes ótimos com pratos excelentes e, de um modo geral, preços razoáveis pela qualidade desses pratos e de seus serviços, mas o abuso nos produtos cujos preços as pessoas raramente verificam nos cardápios (bebidas, principalmente) mostra o nível e as intenções dos gerentes. Todo garçom, aliás, é instruído a perguntar quatrocentas vezes se o cliente quer beber alguma coisa. Claro, bebida dá mais lucro que comida para os restaurantes.

(...) A oferta e a demanda explicam isso -- e a grande presença de turistas reforça a tese. O ponto importante é que isso não torna os preços justos. Oferta x demanda explicam, mas não justificam -- e acima do mercado pode estar o bom senso do comerciante (para cobrar preços justos) e do consumidor (de simplesmente recusar preços abusivos, mesmo podendo pagar por aquilo).

Eu não questiono valores de pratos (v. post do Eugen), porque sei que se trata de criação/produção particular. Vejo a gastronomia como uma espécie de artesanato, e o artista tem o direito de cobrar o que quiser. Se se trata de um PF ou de um lanche, a coisa muda de figura. Um x-burguer, a despeito das variações possíveis, sempre será um x-burguer e é razoável que o preço varie pouco.

De forma análoga citei o caso das bebidas -- uma coca em lata é uma coca em lata em qualquer lugar, seja no Aracati, no Free Port ou no DPNY. Muita coisa explica diferenças enormes de preço entre esses estabelecimentos, mas o que justifica essas diferenças? Nada.
Desnecessário comentar aqui o que escrevi por lá, mas talvez outros consumidores e alguns empresários queiram comentar esse assunto. Para isso, sirvam-se da área de comentários.

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sexta-feira, janeiro 09, 2009

Bons ventos



"No primeiro fim de semana de 2009, a solução mais genial para a fila recorde foi dar meia volta e aproveitar mais um dia em Ilhabela — em outras palavras, simplesmente estar no arquipélago. Quem permaneceu na fila já estava longe de Ilhabela, em algum lugar do continente."


Clique aqui para ler na íntegra meu artigo mais recente publicado no jornal Canal Aberto.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Aviso

Os links dos artigos indicados neste blog referem-se ao endereço antigo de meu site, já desativado. Por isso, eles não funcionarão.

Todos os artigos aqui indicados podem ser encontrados agora em meu novo endereço:

christianrocha.wordpress.com

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À parte isso, as atualizações neste blog continuarão normalmente -- às vezes esparsas, mas continuarão. Em breve postarei o link para o artigo desta semana.

A todos que me acompanham aqui, muito obrigado.

terça-feira, janeiro 06, 2009

Qual a surpresa?


De cima é até bonito.


Você se surpreende com as 9 horas de fila para a balsa, com os congestionamentos, com os assaltos, com o excesso de gente até para fazer xixi, com as praias bosteadas, com os barcos disputando espaço com os jet-skis disputando espaço com os banhistas disputando espaço com as mesas disputando espaço com os cachorros. Você se surpreende com tudo isso e não consegue ver, lá atrás, o começo disso tudo?

Na década de 80 já se anunciava que os próximos verões seriam exatamente como este têm sido.

O que me surpeende mesmo é tanta gente se surpreendendo porque descobriu que 1+1=2. Minha avó já dizia que quem planta vento colhe ventania.

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