domingo, fevereiro 27, 2011

Pelo menos diga não


Uns anos atrás decidi iniciar um negócio. Pretendia oferecer um determinado serviço que, até onde eu podia compreendê-lo, seria de grande interesse para hotéis e pousadas de Ilhabela. Elaborei um material impresso e tirei um dia para ir de porta em porta apresentar o serviço. Em alguns lugares conversei com os proprietários. Em outros, conversei com gerentes ou recepcionistas. Em todos os lugares deixei um folheto que explicava a proposta -- que, aliás, não envolvia nenhum custo para o hotel ou pousada.

Na maioria dos casos fui bem recebido. As pessoas que me atenderam pareciam sinceramente interessadas no que eu lhes mostrava. Encerrei o dia confiante de que seguia na direção correta.

Passaram-se duas, três semanas. Não tive nenhuma resposta. Decidi fazer novo contato, desta vez por email, repetindo algumas explicações transmitidas no contato inicial e pedindo resposta. Fiz isso da forma mais pessoal possível, escrevendo mensagens direcionadas especificamente às pessoas com quem falei. Mala direta não costuma ter alça, por isso a evito.

Mais uma semana de espera e nenhuma resposta.

Depois disso desisti e passei a rever meu planejamento e a desenvolver outras estratégias, que felizmente se mostraram menos ineficazes do que bater de porta em porta e apresentar minha proposta às pessoas responsáveis pelos hotéis e pousadas desta cidade. Eu realmente não fiquei chateado por não ter tido o êxito que gostaria naquela ocasião. O que realmente me chateou foi não ter tido nenhuma resposta -- positiva ou negativa.

É óbvio que nenhuma das pessoas contatadas teve o menor interesse no que propus, mas suas atitudes não correspondiam a esse fato. Como assinalei acima, algumas pessoas se mostraram interessadas; outras, embora não mostrassem tanto entusiasmo, se dispuseram a avaliar a proposta com atenção. Mas não recebi nenhum resposta, nenhum «não, obrigado», nem durante, nem depois.

Sou levado a crer que Ilhabela padece de uma doença que não é típica daqui, mas que aqui encontrou condições ideais para se tornar epidêmica: a dificuldade para ser sincero, que em muitos casos manifesta-se como dificuldade para dizer um simples «não». Noto, por exemplo, que muitas pessoas vêem o «não» como símbolo universal de antipatia e por isso o evitam, mesmo que para isso seja necessário mentir. Quando os assuntos são simples, é raro ter certeza absoluta de que uma pessoa mentiu. Então, se não existe um compromisso direto, a maioria das pessoas prefere mentir a dizer um «não» sonoro e cristalino.

Não sei se fazem isso apenas para manter uma atitude simpática, mesmo que o preço disso seja a verdade. Receio que haja algo mais profundo nessa atitude. O «não» sonoro e cristalino é a certeza necessária para que a pessoa que o recebe faça outra coisa, mude a estratégia, aperfeiçoe o produto ou o serviço. No meu caso, perdi tempo precioso e gastei energia alimentando expectativas que não foram correspondidas. Se a idéia é manter a pessoa em expectativas desse tipo, não é difícil ver nisso intenções malignas de eliminar personagens de um mercado excessivamente competitivo. Mas, é claro, tudo isso pode ser apenas pulga atrás de minha orelha. Ou não.

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Para onde vamos?



Artigo publicado no jornal canalABERTO em 24 de fevereiro de 2011. Para ler na íntegra, clique aqui.

A democracia colocou a ignorância e a estupidez no poder; crimes passaram a ser tolerados; vítimas passaram a ser responsabilizadas pelos atos de seus detratores, que passaram a ser perdoados como vítimas do «sistema»; a história deste país fez as expectativas despencarem. Na escala reduzida de uma cidade como Ilhabela, isto significa aceitar com complacência e até certa alegria o fato de que líderes políticos, intelectuais e empresariais — pessoas teoricamente imbuídas da responsabilidade de conduzir a cidade na melhor direção — demonstram não ter a mais mínima idéia do que acontecerá nos próximos 10 ou 20 anos. É surpreendente que aceitemos ser conduzidos por tais pessoas, que lhes atribuamos alguma autoridade e que, ao mesmo tempo, as dispensemos de responder perguntas tão simples como «para onde vamos?». Isto se torna ainda mais surpreendente quando lembramos que a resposta a esta pergunta já está dada: estamos seguindo fielmente a linha que foi traçada nas últimas quatro décadas.

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Uma leitura crítica do manifesto do IIS

O manifesto do Instituto Ilhabela Sustentável é longo e merece ser lido e analisado com atenção. O texto integral do manifesto pode ser lido aqui. Nesta análise eu o reproduzirei por partes, devidamente destacadas em negrito.

sábado, fevereiro 05, 2011

Notas recentes

-- No trecho entre a Vila e o Saco da Capela, a ciclovia continua não funcionando para ciclistas em «dia de navio». E os turistas continuam não sabendo que ali não é calçada. Prefeitura Municipal parece estar esperando um acidente acontecer para tomar providências.

-- O trecho novo da ciclovia, na Barra Velha, já foi invadido por pedestres -- a exemplo do que ocorre no trecho citado anteriormente. Ademais, o novo trecho é ruim, por diversos motivos. Eu, pessoalmente, prefiro e vou pedalar no asfalto.

-- Nesta semana o asfalto da Barra Velha mostrou a que veio: gerar enchentes. Eu achei que nenhum engenheiro caía mais na pegadinha da impermeabilização do solo em cidades sujeitas a chuvas fortes. Parece piada: enchente numa ilha.

-- Mesas e cadeiras em toda a parte, nas calçadas da Vila e nas praias de todo o arquipélago. Nada contra, desde que os bares, quiosques e restaurantes estejam pagando por isso e desde que sejam respeitados o conforto e a liberdade de banhistas e pedestres. Mas há indícios de que o «turismo» praticado por esses estabelecimentos continua sendo predatório -- a eterna briga de foice para faturar em dois ou três meses o que os sustentará nos outros meses.

-- A despeito dos quatro itens anteriores, mantenham o foco e, como diz o Bilu, busquem conhecimento. Certamente os quatro itens anteriores não são miudezas para quem sofreu danos com eles. Na enchente na Barra Velha houve quem teve seu carro, estabelecimento ou imóvel danificado. Um advogado deve ajudar nisso -- porque em logradouros públicos e na relação entre cidadãos e poder público há direitos e deveres. Para nós, ciclistas, a situação ruim também deve ser contornada com civilidade ao guidão e estudo -- conhecer direitos e deveres também ajuda. E, mais do que isso, é importante saber que o que dá origem a problemas como os citados antes é justamente a falta de conhecimento e de consciência. Assim, que possamos nos manter atentos aos problemas do dia-a-dia, sem esquecer o nosso lugar e nossa condição nesse contexto.